Lançamento de Brochura "Ensinar e Aprender na Diversidade: Orientações para Professores/as do Ensino Superior"
30 setembro 2021 | 15h00 | Híbrido

 

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→ Presencial - Iscte, Ed. 2, Aud. B2.04

→ Download do Cartaz e Programa 

 

Mais informação sobre a iniciativa e oradores ↓ 

 


  

15H - 16H > APRESENTAÇÃO DA BROCHURA COM ORIENTAÇÕES PARA DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR

 

A equipa do projeto de investigação-ação Trovoada de Ideias - Inclusão Linguístico-social de estudantes internacionais dos PALOP no Ensino Superior Português, construiu a brochura “Ensinar e Aprender na Diversidade: Orientações para Professores/as do Ensino Superior”, a partir de grupos de discussão com estudantes, docentes e funcionários/as no ensino superior português, que tiveram lugar entre entre 2019 e 2020. 

 

Iremos apresentar o processo metodológico de construção da brochura, assim como os seus principais conteúdos finais.

 

 

Coordenadores do projeto, e oradores:

 

Ana Raquel Matias (CIES-Iscte, Socióloga, coordenadora do projeto Trovoada de Ideias

Professora Auxiliar no Departamento de Sociologia (ESPP, Iscte) e Investigadora no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (CIES-Iscte/ Iscte). Doutorada em Sociologia pelo ISCTE-IUL (Lisboa) e pelo Instituto Nacional de Estudos Demográficos (INED, Paris). Tem trabalhado na intersecção entre sociologia das migrações e sociologia da linguagem, comparando políticas de imigração, integração social e políticas linguísticas a várias escalas: institucional, familiar e individual. 

 

Publicações recentes

Matias, A.R. & Pinto, P.F. (2020), “Overcoming linguistic barriers in Portuguese higher education: The case of international African students”, in Portuguese Journal of Social Science / Matias, A.R. & Pinto, P.F. (2020), “Pretoguês/pretuguês – breves notas sobre o papel do racismo na construção histórica de um não-lugar de falar, in Caderno MICAR Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista / Matias, A.R. (2020), “O Impacto da Crise da COVID-19 nas Desigualdades Sociolinguísticas e Étnico-Raciais”, in Observatório das Desigualdades / Matias, A.R & Martins, P. (2019), “Pode a educação plurilingue constituir-se como educação anti-racista?”, in MEDI@ÇÕES.

 

 

Paulo Feytor Pinto (APEDI; CELGA-ILTEC, Sociolinguista, coordenador do projeto Trovoada de Ideias

Mestre em Estudos Interculturais (1999) e doutoramento em Estudos Portugueses e Política Linguística (2008), é investigador do Centro de Estudos de Linguística Geral e Aplicada (CELGA-ILTEC) na Universidade de Coimbra, Portugal, investigador colaborador da Universidade Aberta CEMRI, e professor de língua portuguesa. Foi presidente da Associação de Professores de Língua Portuguesa (1997-2011), colaborou na elaboração do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (1992-95),  o autor dos livros "Como Pensamos a nossa língua e as línguas dos outros" (Editorial Estampa, 2001), "Novo Acordo Ortográfico para a Língua Portuguesa" (2009) e "O Essencial da política de Língua" (2010). Atualmente é presidente da Associação de Educação Intercultural (APEDI), entidade coordenadora da projeto 'Trovoada de Ideias'.

 

 

 

16H - 17H > COMPREENDER REPERTÓRIOS LINGUÍSTICO-COMUNICATIVOS EM LITERACIA ACADÉMICA NAS VARIEDADES DO PORTUGUÊS 

 

Guineense, línguas nacionais e português: algumas considerações sobre o seu contacto 

O guineense, ou kriol, representa a língua maioritária e de identidade nacional na Guiné-Bissau. O país apresenta uma situação linguística muito complexa e variada, onde, para além do guineense, mais de vinte línguas nacionais - atlânticas e mande - são faladas. Nesse cenário, o guineense também funciona como língua franca permitindo a comunicação entre comunidades de línguas diferentes. Contudo, a única língua oficial do país é o português, embora seja falado por uma minoria, principalmente como língua segunda (L2). Adicionalmente, o português é a única língua de ensino na Guiné, com a exceção de alguns projetos bilingues (Truppi 2021 e referências nele citadas). 

 

Nessa complexa situação linguística, o português cruza-se com o guineense que influencia a maneira como os seus falantes se expressam em português: um exemplo é a falta de condordância de número, pessoa e género entre um nome e o seu predicado (do Couto 2009; Silva & Sampa 2021; ver também Bacelar do Nascimento et al. 2008 e Hagemeijer 2016 sobre as variedades de português em África). No entanto, as línguas nacionais não parecem influenciar diretamente o português falado na Guiné, excepto no que diz respeito à importação de alguns itens lexicais e à integração de alguns traços fonológicos destas línguas no português (Silva & Sampa 2021). Contudo, embora certas tendências sejam reconhecíveis, é difícil falar de uma variedade de português na Guiné-Bissau, diferentemente do que tem sido proposto para outros países  como Angola ou Moçambique. De facto, o português é falado principalmente como L2 no país e, segundo os dados do INE da Guiné-Bissau (2009), estima-se que o número de falantes corresponda a pouco mais de um quarto da população. 

 

Os objetivos principais da apresentação serão (i) expor a complexa e variada situação linguística da Guiné-Bissau; (ii) discutir o papel das varias línguas no país, focando-nos na função do guineense e do português na vida dos guineenses e, em particular, no ensino; (iii) apresentar possíveis interferências do guineense na aprendizagem e no uso do português. 

 

Referências selecionadas 

Bacelar do Nascimento, M.F. et al. 2008. Aspetos da unidade e diversidade do português: as variedades africanas face à variedade europeia. Revista Veredas (9), 35–60.  

Couto, H.H. do. 2009. Português em contato: o português e o crioulo na Guiné-Bissau.  Em A.M. Carvalho (ed.), Português em contacto, 53–66. Madrid/Frankfurt am Main: Iberoamericana/Vervuert,.  

Hagemeijer, T. 2016. O português em  contacto em África. Em A.M. Martins & E. Carrilho (eds.). Manual de Linguística Portuguesa, 43-67. Berlim: Mouton de Gruyter.  

INE - Instituto Nacional de Estatística da Guiné-Bissau. Recenseamento Geral da População e Habitação 2008 – Guiné-Bissau. Ministério da Economia do plano e da integração regional/INE Guiné-Bissau. 

Silva, C. L. da & P.J. Sampa. 2021. A língua portuguesa na Guiné-Bissau: influência do crioulo e a identidade cultural no português. Revista Internacional Em Língua Portuguesa (31), 231–247.  

Truppi, C. 2021. Kriol (guineense), línguas nacionais e multilinguismo: a grande riqueza linguística da Guiné-Bissau. Em Museu da arte e cultura da Guiné-Bissau. https://clossvany.com/kriol-ou-guineense-linguas-nacionais-e-multilinguismo/ Acesso: 16 de agosto 2021. 

 

 

 

Txapa-txapa no português de Cabo Verde: interferências linguísticas e mal-entendidos 

 

A situação linguística de Cabo Verde caracteriza-se pela coexistência de dois códigos linguísticos que têm beneficiado de estatutos e de situações de uso diferentes no quotidiano dos cabo-verdianos (Cardoso, 2005, 2018).

 

Em Cabo Verde não há tradição de ensino formal da língua materna e a língua da educação tem sido exclusivamente o português.

 

Duarte (1998, 215) e Pires (2010, 149) asseguram que 90% das crianças em idade escolar falam português pela primeira vez quando ingressam na escola. A língua cabo-verdiana tem sido utilizada no contexto educativo apenas como um recurso para apoiar a aprendizagem da língua portuguesa (Monteiro, 2009).

 

Mendes, em 2009, confirma o que fora dito por Pedro Cardoso na primeira metade do séc. XX  “são raros os rapazes que saem das escolas primárias compreendendo bem o que lêem.” (Cardoso, 2008: 97-98).

 

Rosa (2010:104) apresenta alguns relatos de alunos do ensino superior em Cabo Verde que demonstram a fragilidade e o constrangimento existente no domínio e uso do português e Lopes (2016) confirma esta situação nos dados que recolheu, onde demonstra que o distanciamento das percentagens entre o uso das duas línguas na oralidade na leitura e escrita realçam a diglossia existente, pois o cabo-verdiano não faz parte do sistema de ensino, mas é a língua falada diariamente em todas as situações do quotidiano.

 

Mouta, 2019 faz referência ao português falado em Cabo Verde como sendo emergente, com características diferentes do português de Portugal.

 

Nesta apresentação vamos dar conta de algumas interferências linguísticas (Cardoso, 2005) e mal‑entendidos que ocorrem no discurso em português dos cabo-verdianos.

 

 

 

Referências selecionadas 

CARDOSO, Ana Josefa (2005), As Interferências Linguísticas do Caboverdiano no Processo de Aprendizagem do Português. Tese de Mestrado, Lisboa, Universidade Aberta.

CARDOSO, Ana Josefa (2018), Situação linguística de Cabo Verde: em português e na kabuverdianu. In Melo-Pfeifer, Sílvia & Feytor-Pinto, Paulo (coord.), Políticas linguísticas em Português.  Lisboa, Lidel-Edições Tecnicas, Lda., p.169-181.

CARDOSO, Pedro (2008), Textos Jornalísticos e Literários. Brito-Semedo, Manuel & Morais, Joaquim (ed.), Praia, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro.

DUARTE, Dulce Almada (1998), Bilinguismo ou Diglossia? , Mindelo, Spleen Edições.

LOPES, Amália (2016), As Línguas de Cabo Verde: uma radiografia sociolinguística. Praia, Edições Uni-CV.

MENDES, Amália (2009), Referencial para o ensino em Português Língua segunda em Cabo Verde no contexto da Oficialização da Língua Cabo-verdiana. Dissertação de Mestrado, Lisboa.,FLUL, Universidade de Lisboa.

MONTEIRO, Adelaide (2009), «O contexto sociolinguístico e situacional da aprendizagem de língua portuguesa em Cabo Verde na 1ª fase do ensino básico». In M.H.M. Mateus et al. (ed.), Metodologias e materiais para o ensino do Português como Língua Não Materna – Textos do Seminário, Lisboa, ILTEC.

MOUTA, Tiago (2019), Bo, tu e você -Vértices do Triângulo das  Bermudas do sistema de tratamento do emergente português de Cabo Verde, Dissertação de Mestrado, Mindelo, Universidade Aberta.

PIRES, Dora (2010), «A situação linguística em Cabo Verde». In IILP/AULP (ed.),  Interpenetração da Língua e Culturas de /em Língua Portuguesa na CPLP, Lisboa, CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

ROSA, João (2010), Discursos Linguísticos e realidades nas salas de Aula. Vencendo a Luta pelo Controle, Praia, Edições Uni-CV.

 

  

Oradoras:

Chiara Truppi (CLUL-UL, Linguista) 

Licenciada em Mediação linguística e comunicação intercultural Universidade de L'Aquila, Itália (2006), mestre em Linguística geral Universidade de Florência, Itália (2009) numa tese sobre aspetos morfossintáticos do guineense, com foco no seu sistema pronominal, é doutorada Linguística geral

Universidade Humboldt de Berlim, Alemanha (2014) a partir da qual elaborou um estudo sintático-semântico dos bare nouns (sintagmas nominais simples) no guineense.

É investigadora de pós-doutoramento no Centro de Linguística da Universidade de Lisboa desde 2017, onde desenvolve um projeto sobre cópulas e sistema predicativo do guineense, sua emergência e seus aspetos sintáticos e semânticos, e desenvolve um corpus do guineense - anotado e pesquisável – com dados orais recolhidos na Guiné e uma gramática descritiva desta língua.

 

Ana Josefa Cardoso 

(CLUNL, Linguista) 

Linguista cabo-verdiana, professora de Português e Língua Cabo-verdiana, formadora nas áreas de Educação e Interculturalidade, Didática de Português Língua Materna e Língua Não Materna e Língua Cabo-verdiana. Participou em Projetos de Educaçao Bilingue Cabo-verdiano/ Português, em Portugal e em Cabo Verde.